quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Aborto, Serra, Dilma, Tiririca, nordestinos e paulistas

Campanha eleitoral é mais emoção do que razão. Neste período, as contradições ficam mais expostas. É assim em todo canto.
Nas ruas do Rio de Janeiro há uma tendência de crescimento em favor do candidato tucano José Serra. O próprio governador Sérgio Cabral, do PMDB, parece "costear o alambrado" em favor de Serra. Suas palavras públicas são pró-Dilma, mas aqui e ali ele sinaliza que apoiou Serra em 2002, tem com ele boa relação, por ele nutre apreço e que não esquece que o tucano fez uma visita de cortesia à sua casa no meio do ano...
Para Cabral será simples apoiar Serra. Basta elogiar Dilma em público e não arregaçar as mangas para a candidatura da ex-ministra de Lula. Deixar quieto pode ser a estratégia. Já será uma bela ajuda ao projeto tucano. Em política isso chama "cristianização" da candidatura de alguém.
O carioca não está nem aí se o Governo Lula inundou de recursos o estado. Muito menos se isto pode mudar com outro que não seja da mesma corrente. Para ele, basta um ser antipático que ele despeja voto no outro. E depois de amanhã pode mudar novamente.
O governador Leonel Brizola fez um investimento poderoso na favela Pavão-Pavãozinho e na eleição seguinte foi derrotado nas urnas.
Um dos argumentos da classe média mais repetido atualmente é que "a gangue petista vai transformar o Brasil numa Venezuela de Chávez". E a saída para evitar a vinda do Satanás, é Serra. E de lambuja pode-se dizer que o governo FHC foi o melhor da história.
O carioca médio não está muito ligado nos efeitos perversos da decadência econômica. É uma atitude antropofágica, mas ele age assim, emocionalmente, diríamos.
O velho chavão de que o fluminense é politizado, não cabe mais. Ninguém está preocupado com os rumos da política por estas bandas.
Um só exemplo. Sempre que faço testes de conhecimento de política com meus alunos, que variam de 18 a 25 anos, a resposta é comumente trágica. A desinformação é total e absoluta. O jovem ignora - e desdenha - o que se discute em Brasília. E nem aceita mudar sua "forma de pensamento".
O paulista acusa os nordestinos de terem eleito Tiririca, como se os próprios paulistas não tivessem sua cota de responsabilidade. "É coisa de 'baiano', e tá acabado!".
A candidatura Tiririca foi uma esperteza de gente que mexe os cordéis nos bastidores. Nem o comediante entende direito o que está acontecendo. Pelo visto, o leitor muito menos.
Os jornais de São Paulo estampam manchetes atribuindo a região Nordeste como a última cidadela da candidata Dilma Rousseff. E insinuam que a preferência pela petista se explica pelo atraso e os efeitos paternalistas do bolsa-família.
Nem respeito por uma importante região do Brasil existe mais. Como se morar em capitais do Sudeste fosse o melhor exemplo do bem estar cosmopolita. O máximo de modernidade que o país pode oferecer.
José Serra prometeu seguir prefeito da capital de São Paulo até o fim, deu a sua palavra, e não cumpriu. Mas isso é irrelevante para mídia que cobre a campanha. Afinal, Dilma defendeu a discriminalização do aborto e isto que interessa.
A discussão do aborto é importante mas não é a espinha dorsal da eleição. A não ser para os embusteiros que querem embaralhar a visão do eleitor.
Dilma por sua vez vive na sombra, numa redoma, foge das luzes e não responde nada. Os petista acham que isto está certo. Esta atitude, se não for mudada, a enterrará ao lado de outros derrotados.
Não seria surpresa se o ex-prefeiro do Rio Cesar Maia integrasse um eventual governo Serra. Ele é fiel a Serra desde o início da disputa.
O eleitor carioca rejeita Maia, mas não vê problema o tucano convocá-lo para ocupar um posto em Brasília. Para o eleitor, Maia não serve para o Senado, mas para ser ministro, tudo bem.
A bola está com o eleitor. Ele é quem tem que decidir para onde o país deve ir, mesmo que suas opções sejam emocionais e contraditórias.
Quem disse que é fácil viver?
Por Lady A

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