Os movimentos de última hora das campanhas a presidente em busca de apoios de lideranças evangélicas tem uma explicação: Dilma Rousseff (PT) caiu repentinamente entre eleitores dessa fé na reta final da campanha. Ao mesmo tempo, sua rejeição aumentou entre eles. Os beneficiários disso foram a evangélica Marina Silva (PV) e o católico José Serra (PSDB). Ambos ganharam votos no eleitorado evangélico.
O principal motivo dessa oscilação parece ter sido a versão, espalhada pela internet e no boca-a-boca, de que Dilma seria a favor da legalização do aborto. A petista, que havia dito ser pela mudança da lei em 2007, teve que ir à público dizer que esse é um tema do Congresso, que é contra a prática e que não tomaria iniciativa de propor nenhuma lei para legalizá-la.
Ao mesmo tempo, o PT buscou o apoio de lideranças de várias igrejas evangélicas. Organizou um ato de apoio de líderes religiosos à sua candidata na quarta-feira e estimulou que eles se pronunciassem publicamente em favor de Dilma. Foi o que fez, por exemplo, o bispo-mór da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo.
A movimentação de urgência conseguiu estancar a queda da petista entre os evangélicos.
O Ibope fez um levantamento do voto por religião declarada dos eleitores. Os gráficos abaixo mostram as curvas do voto católico, evangélico e demais eleitores (de outras religiões e agnósticos e ateus) para cada um dos candidatos a presidente. No caso de Dilma, há também um gráfico que mostra a evolução da rejeição a ela, de acordo com a fé de cada grupo de eleitores.
A partir do começo de setembro, Dilma começou a perder apoio entre os evangélicos. Até então, a preferência religiosa não era um fator preponderante na escolha do voto. As curvas dos três grupos de eleitores seguiam paralelas, com a petista tendo um pouco mais de dificuldade entre os evangélicos, porque nesse segmento Marina sempre foi melhor do que entre eleitores de fé diferente.
O gráfico da rejeição a Dilma mostra que algo novo começou a acontecer no início de setembro. De repente, começou a aumentar o número de eleitores evangélicos que diziam que não votariam na petista de jeito nenhum. Como a rejeição não aumentou entre os demais eleitores, era sinal de que havia algum problema novo na relação de Dilma com os evangélicos: em apenas duas semanas ela perdeu 7 pontos porcentuais nesse grupo.
Ao mesmo tempo, as curvas de intenção de voto dos dois principais adversários de Dilma começaram a crescer entre os evangélicos. Em um mês, Serra ganhou 10 pontos porcentuais, saindo de 21% para 31% nesse segmento. Marina ganhou 7 pontos e chegou a 20%, embora tenha recuado depois para 18%.
Os eleitores evangélicos representam 20% do total do eleitorado brasileiro. É a segunda maior parcela, na divisão por religião, atrás apenas dos católicos, que são 66%. Uma mudança de preferência de 20% desses eleitores representaria trocar o voto de até 4% do total do eleitorado. Em uma disputa apertada como a eleição presidencial, poderia ser o suficiente para provocar o segundo turno.
Em outras palavras, a polêmica em torno da legalização do aborto pode ter tido um peso maior no refluxo das intenções de voto de Dilma nesta reta final do que as denúncias de corrupção no governo e os ataques de Lula à imprensa. A campanha 'viral' através da internet foi feita usando vídeos como este. Fato inédito, uma questão religiosa pode ser responsável pelo segundo turno, se ele acontecer.
Por Grii Alves
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