terça-feira, 18 de maio de 2010

Morre Prahalad – o guru da “riqueza na base da pirâmide”

por Ana Luiza Herzog
Acabei de saber que o guru C.K. Prahalad morreu na sexta-feira, aos 68 anos, em San Diego, nos Estados Unidos. Não nutro muita simpatia pela maioria dos gurus da administração, mas Prahalad, que era professor da Universidade de Michigan, merecia muito crédito. Não sou conhecedora de todas as suas teorias, mas li “A Riqueza na Base da Pirâmide – Como Erradicar a Pobreza com Lucro”, que ele lançou em 2004 e tornou-se um dos livros de administração mais influentes dos últimos tempos.
No ano passado, Prahalad relançou a obra com um capítulo novo, uma espécie de balanço das teorias e premissas que o autor julgava fundamentais para as empresas conquistarem consumidores nas classes baixas da população. Foi quando tive a oportunidade de escrever uma resenha sobre o livro e entrevistá-lo para a EXAME. Vou colocar a entrevista que publicamos aqui, para vocês darem uma olhada. Prestem atenção, sobretudo, na resposta que o pensador dá para a minha pergunta sobre como ele enxerga o futuro da base da pirâmide. Espero que o desejo de Phahalad vire realidade um dia …
“Quero que essa história de base da pirâmide se torne irrelevante”
Prahalad sonha que daqui a dez anos não exista mais diferença entre produtos para ricos e pobres. Professor da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, C.K. Prahalad mudou a maneira com que as empresas enxergam os consumidores de baixa renda. Nesta entrevista a EXAME, ele diz que setores como o de telefonia móvel reduziram o fosso entre ricos e pobres. Outros ainda têm um longo caminho a percorrer.
O livro A Riqueza na Base da Pirâmide – Como Erradicar a Pobreza com Lucro foi lançado em 2004. De lá para cá, o que mais surpreendeu o senhor?
Sempre soube que a tecnologia teria um impacto grande nos consumidores da baixa renda, mas me surpreendi com o ritmo com que isso aconteceu. Pense nos milhares de consumidores pobres da Ásia, África e América Latina que hoje têm celulares. A operadora indiana Barthi Airtel tem 100 milhões de clientes e quer chegar a 200 milhões até 2011. A Safaricom, no Quênia, também é um sucesso. Esses consumidores usam o celular porque ele faz diferença em sua vida – pagam contas, enviam remessas de dinheiro a parentes. Isso prova que, se oferecido o mix certo de produtos, a fusão entre tecnologia e base da pirâmide pode se dar num ritmo explosivo.
E quais foram as outras surpresas?
A base da pirâmide está se transformando na principal plataforma de inovação para as grandes empresas. Veja o netbook. Ele foi idealizado para consumidores pobres, mas está se transformando em uma febre nos Estados Unidos. Ou seja, as empresas não só podem inovar na base da pirâmide como levar essas inovações para o topo.
E qual é o futuro para a base da pirâmide?
Meu desejo é que em dez anos essa distinção entre base e topo da pirâmide desapareça. Para isso, me inspiro de novo nas empresas de telefonia móvel. A distinção entre o seu celular e o de uma pessoa pobre não é grande. Ele pode ter um design mais atraente ou uma câmera melhor, mas as funcionalidades básicas são idênticas. Isso também já é fato para os eletroeletrônicos, mas não para serviços básicos, como acesso a saúde ou água potável, e precisa ser. Muita gente cria conceitos e quer que eles durem 40 anos. Ajudei a dar início à jornada da base da pirâmide, mas não quero que ela se torne sagrada. Quero que a desigualdade diminua – como está acontecendo no Brasil com a redução da classe E – e essa história toda de base da pirâmide se torne irrelevante.

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