segunda-feira, 31 de maio de 2010

Especialista em apontar rumos

Por Filipe Serrano
Ele criou o Kazaa, depois o Skype e previu que a TV migraria para a internet com o Joost.tv. Agora, muda de time, deixa de ser empreendedor para virar investidor e está procurando boas ideias no Brasil
Raras pessoas têm a chance durante a vida de ter uma grande ideia que pode alterar o mundo. O sueco Niklas Zennström, 44 anos, fez isso três vezes em menos de um década. Junto do colega Janus Friis e dos programadores Ahti Heinla e Jaan Tallinn, ele foi responsável pelo lançamento de alguns dos softwares mais populares até hoje: o Kazaa, o Skype e o Joost – este último teve menos sucesso, mas apontou para um futuro em que os programas de televisão migrariam para a internet.
Hoje, Niklas faz outro papel. Ele trocou o lado empreendedor por outro também desafiador, o de investidor. Sua empresa, a Atomico, administra fundos de investimentos em novos negócios na internet. Algumas das 30 empresas financiadas por Niklas também são conhecidas na rede, como Last.fm, Kyte.tv, Technorati e Seesmic.
Oportunidade:“O Brasil tem de se preparar para fazer o seu futuro, e não ser  complacente”, disse o criador do Skype, em visita ao País     Foto: Divulgação
Grande parte delas é europeia ou norte-americana, mas Niklas acredita que uma próxima grande empresa de internet pode surgir também aqui no Brasil. Um de seus sócios, Geoffrey Prentice, inclusive está de mudança para São Paulo, em busca de novas ideias em terras tropicais.
“Tenho certeza que existem muitas oportunidades de investimentos no Brasil”, disse o criador do Skype ao Link em passagem pelo País no início do mês. “A infraestrutura de banda larga ainda é um ponto crucial (para o desenvolvimento do País), mas o número de pessoas online cresce muito rápido e o Brasil já tem todos os pré-requisitos para ser um bom mercado para a próxima grande empresa de internet”, afirmou.
Os anos de experiência em startups mostraram que novos grandes negócios só surgem quando um empreendedor tem uma ideia visionária, como a do Skype, hoje responsável por 12% das chamadas internacionais no mundo (3,1 bilhões de minutos em 2009).
“Queríamos permitir que as pessoas fizessem ligações de graça ou quase de graça”, disse Niklas, que vendeu o Skype para o Ebay em 2005 por US$ 1,9 bilhões, mas ainda faz parte do conselho da empresa.
Não adianta seguir uma tendência, é preciso quebrá-la, segundo ele. “É esse tipo de ideia que procuramos. Queremos investir em coisas que não esperaríamos encontrar”, disse.
Os produtos da Apple são um exemplo para o sueco. O iPhone e o iPad criaram um mercado novo para aplicativos de telefones e tablets que praticamente não existia antes. “Obviamente é um negócio de sucesso, e isso é bom para eles, mas eu nunca procuraria investir agora em uma empresa que estivesse criando um produto concorrente do iPad. Ele já foi feito.”
Niklas, que lançou o Kazaa em 2001 aproveitando o fechamento do primeiro grande programa de compartilhamento de arquivos – o Napster -, não arrisca citar uma tendência que precise ser quebrada, mas acredita que as boas oportunidades podem surgir em serviços online voltados para o celular. “Costumávamos pensar na telefonia e na internet como coisas separadas. Hoje uma empresa que esteja criando um produto online precisa de todo jeito pensar em ter um lado voltado para o telefone”, disse.
Mas isso também é uma tendência hoje. Quem sabe a quarta grande ideia de Niklas não será quebrá-la com a ajuda de brasileiros?

‘Sem o Kazaa, não haveria Skype’
A experiência com o Kazaa fez Niklas Zennström perceber a importância de ter um modelo de negócios convincente para uma ideia ter sucesso.
E é essa o principal ensinamento que ele passou na palestra que fez no Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), em São Paulo, no começo de maio.
O sueco, hoje investidor, contou que, apesar de imaginar um serviço para as gravadoras distribuírem música digital, elas não estavam preparadas para o modelo na época. “Nós não estávamos lucrando com o Kazaa, estávamos até perdendo dinheiro e ainda sofrendo processos na Justiça”, contou. Com o Joost, aconteceu algo parecido. Ele queria criar uma plataforma para assistir TV online. “Mas as emissoras preferiram trabalhar sozinhas.”
Mas foi a experiência que o levou a criar o Skype.
Como a equipe do Kazaa ficava em diversos países, os custos com as ligações eram muito altos. “Se não tivéssemos feito o Kazaa, não teríamos criado o Skype”, disse, exemplificando como os empreendedores e as empresas podem tirar uma chance de inovar diante das situações de crise ou depois de cometerem um erro. “É difícil encontrar exemplos de grandes empresas que nunca cometeram erros”, afirmou.
Mas mesmo com o projeto do Skype em andamento, Niklas passou um ano sem conseguir um investidor. “Conversamos com 36 investidores na Europa e ninguém queria apostar no Skype porque estavam procurando cópias de grandes empresas como Yahoo, Amazon e Ebay na época”, disse.
AS TRÊS CRIAS DE NIKLAS
Das três criações de Niklas, o Skype é a de maior sucesso. Mas o Kazaa e o Joost também fizeram história. O primeiro é usado no Brasil até hoje para baixar arquivos, mas sofre críticas por ter vírus e programas espiões. O Joost não deslanchou como esperado, em parte por causa da proliferação de downloads de programas de TV via torrent.
KAZAA: O programa de compartilhamento de arquivos ganhou espaço depois do fechamento do Napster.
SKYPE: Lançado em 2004, foi vendido para o Ebay no ano seguinte. Em 2009, o Ebay vende 70% do Skype para investidores.

JOOST
: Surgiu em 2007 e permitia assistir a canais de TV pela internet. Tem 67 milhões de visitantes por mês

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