Vencedor de quatro Brasileirões nos últimos cinco anos, o treinador do Fluminense pode ser uma inspiração para o mundo dos negócios
Muricy é líder "mão-na-massa"
São Paulo – “Quando o time está jogando bem, quando o time está com todos os seus jogadores em campo e não há nenhum tipo de problema, o técnico não tem nem que se meter muito, porque ele vai atrapalhar...”. Muricy Ramalho sequer conseguiu completar a frase, durante a entrevista coletiva dada após a conquista do título de Campeão Brasileiro de 2010 pelo Fluminense. Interrompido pelos gritos de “É campeão!” dos jogadores do clube, o técnico levou literalmente um banho de seus alunos, em um agradecimento bem-humorado pela vitória.
Com um extenso currículo de vitórias, Muricy venceu quatro dos cinco últimos Campeonatos Brasileiros (três pelo São Paulo – 2006, 2007 e 2008 - e o mais recente pelo Fluminense) e quase foi o substituto de Dunga na Seleção Brasileira. Mesmo depois de um desempenho aquém das expectativas no ano passado, no Palmeiras, Muricy não desistiu e teve mais uma vitória em 2010. Longe dos estádios, algumas de suas características de liderança podem ajudar gestores e executivos a alcançar cada vez mais resultados. O consultor e professor do curso de Gestão e Recursos Humanos da Veris faculdades, do Grupo Ibmec, Cristiano Rosa, enumera algumas lições que os líderes podem aprender com o técnico. Confira.
Ter ambição e saber tomar decisões
Quando foi contratado pelo Palmeiras, em julho de 2009, Muricy era a grande promessa do clube para ganhar o Brasileirão. Apesar das apostas, sua trajetória deixou a desejar, foi demitido, mas nada tirou sua vontade de vencer. Movido por uma grande ambição, o treinador seguiu em frente e assumiu um compromisso com o Fluminense: resgatar o clube quase rebaixado no Campeonato do ano passado e torná-lo vencedor. Conseguiu.
Adequar-se à cultura da empresa
A persistência de Muricy foi decisiva na vitória, mas não só ela. O professor Cristiano Rosa considera que seu sucesso no São Paulo e no Fluminense se deu por uma identificação do técnico com a cultura dos dois clubes. “A cultura do São Paulo é muito semelhante à cultura do Fluminense. Até mesmo as torcidas dos dois times se apoiam. Acredito que ele não conseguiu entregar os resultados no Palmeiras porque não se adequou à cultura do clube”, afirma. Essa adaptação à empresa é, segundo o professor, imprescindível para que a equipe renda bons resultados. Não importa o quanto o líder é eficiente, sem sintonia com a cultura, não há sucesso.
Saber honrar contratos
Todo técnico de futebol sonha em ser o treinador de uma seleção de seu país, e Muricy esteve bem perto de realizar essa vontade. Depois do fracasso da Copa do Mundo deste ano, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, mostrou interesse em convidar o técnico do Fluminense para liderar a seleção. Vendo a possibilidade de perder um grande profissional, o clube negou a liberação de Muricy, que acatou a decisão e preferiu manter seu contrato. “Essa é uma importante lição para os executivos. É preciso saber respeitar os contratos. O Muricy também foi ético, pois poderia pedir para algum patrocinador pagar a multa de rescisão. Mas continuou no clube mesmo assim”, diz o professor Cristiano Rosa.
Saber selecionar e trabalhar com os melhores
Um grande líder precisa saber enxergar onde estão os melhores talentos – tanto os destaques, quanto os que estão menos evidentes. O professor Rosa chama a atenção para as mudanças promovidas por Muricy durante sua trajetória no Fluminense, inclusive a contratação do atacante Washington (ex-São Paulo), que teve participação decisiva no gol da vitória deste domingo (05/12). Para o professor, assim como no futebol, os executivos precisam ir ao mercado para buscar os profissionais certos, que vão fazer a diferença. “Não é ter um Neymar na equipe, mas vários profissionais que conseguem entregar o resultados”, afirma.
Ser líder participativo
Uma postura envolvida com o trabalho é outra lição dada pelo técnico do Fluminense. Definido por Cristiano Rosa como um líder “hands on”, Muricy é o típico profissional mão-na-massa, que se envolve, sua, grita, batalha com a equipe para chegar ao resultado. “Ele é o líder participativo de hoje. Não é do tipo de ficar na mídia, dando palestra. Ele está lá jogando também”, diz. Essa forma de trabalhar, segundo o professor, envolve a equipe e ajuda a moldá-la à cultura de dar resultados no dia-a-dia e não apenas na hora decisiva do jogo. “O meia Conca, por exemplo, é o melhor jogador do Brasil hoje e nem é brasileiro. É Argentino. O Muricy fez o jogador entrar na cultura de ‘entregar no dia-a-dia, para a equipe”.
Ter estratégias internas mais críticas
Para Cristiano Rosa, os executivos devem aprender com Muricy a ter uma postura mais crítica e menos “florida”. Caracterizado por sua autenticidade e naturalidade, embaladas por um certo e já famoso mau humor, o técnico não se preocupa com agrados ou bajulações da mídia, o que o leva a ter uma imagem de mal-educado. Essa maneira de agir pode servir de inspiração para os gestores. “Ele não é um vendedor de estratégia externa, é uma pessoa crítica e não se importa muito com as opiniões de fora. No nosso meio corporativo, há muitas flores; os gestores se preocupam muito com a aparência, mas entregar os resultados que é bom, nada”, afirma.
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